quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

James, o homem de verdade - Primeira Parte

Conheceram-se numa Sex Shop: BIG PLEASURE!, indicava, ofuscante, o neon.
Ela, obviamente, não era dessas mulheres desfrutáveis pelas quais a gente nutre repugnância e um terço de dó. Era, pelo contrário, moça direita, cheia de princípio. Tomava um uísque e fumava um baseado de quando em vez, era verdade, mas zelava pelo meio-ambiente, tinha lá uma fé ao seu modo, acreditava em ética e não votava no PSDB.
Sucede que um dia, com a mulherada do escritório - era atendente de telemarketing; e não que o fosse por falta de opção, mas, com seu british english, no Brasil, ainda parecia preferível encarar o helpdesk da HP às horas/aula na Cultura Inglesa -, fofocava sobre os homens.
Divertiam-se todas, discorrendo acerca de seus trágicos relacionamentos com toda a sorte de homem - e mulher, que Tânia, gerente, era sabidamente lésbica, embora falasse sobre seus amores veladamente, num tom sem gênero nem artigo.
Por que coxa, se bonita – perguntou alguém aos finais d’algum século ido, lembrou. Quanto a eles, eram feios se inteligentes; prepotentes se bonitos; impotentes se gentis.
Antes só e fracassada, solteirona entre sobrinhos e cunhadas e irmãos naquelas intermináveis macarronadas dominicais, percebeu-se ali uma forte. Resistira bravamente às agruras românticas pelas quais tinha passado, apesar duns quilos ganhos e soluços madrugais, enquanto a colega na baia vizinha, confessava em tom dramático, tentara suicídio duns seis jeitos diferentes numas três ocasiões.
- Homem na minha casa, hoje em dia, tem de vir com uma garrafa de Black Label, um pacote de cigarros, e ir embora antes do galo cantar, declarou Maria Luísa, a moça, aparentemente, mais dada ali.
Rindo, às lágrimas, concordou. Intimamente, no entanto, sua verdade vinha à tona e era justamente esta: sensação alguma é feito aquela provocada por uma boca desejosa ao pé do ouvido, acompanhada duns ombros largos sobre os quais a gente se recosta e desfaz.
Ao galo cantador, a colega despachada emendou a recomendação dum vibrador: Encontra-se em qualquer Sex Shop e, na hora do aperto, não há melhor consolo.
Meio pela graça, meio em função do aperto, empurrou a porta de vidro e adentrou a loja dona de si, respondendo com sorriso à autômata gemida feminina dada pelo sensor sonoro à entrada da clientela. Assim, de peito aberto, entre ícones da literatura erótica, clássicos do cinema pornográfico, estimulantes sexuais e apetrechos tecnológicos multicoloridos com utilidades inimagináveis, topou contra o ombro dele.
Seu nome era James.

Um comentário:

  1. Queria apenas te agradecer pelos comentários já feitos por ti em meu blog e te avisar que, daqui em diante, os responderei tão logo puder lá no blog mesmo. Isso vale pra todos comentários (valiosíssimos, que eu ainda espero receber em profusão) seus e de outrem.

    PS: Mas que tipo de pessoas se conhecem em sex-shops!?

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