Precisava chorar todas lamentações, mas chegou a estiagem. Estancou olhar sob quilômetros de trapos brancos envoltos à cabeça, deu de costas à cidade, criança, amor, cão; seguiu rastro da tragável poeira da estrada, sem filho-bengala, sem pouso à madrugada nem esteira para sesta. Pão amanhecido, ao desjejum asfixiava, não resistia, na boca da esfinge segunda; quisera outrora, e ainda, ser trigo. Que pra ser alimento, não sabia, tinha de prover o tudo, e não suar salgado, e não servir atentamente ao vão (seria, entanto, insólito arrependimento a altura dessas. Tenaz era crença em deus Máquina, longa escalada, injusta senda, cordão do títere. Premeditado inconsciente, sofrimento é sempre roupa ajustada ao que não sobra vontade de averiguar justo motivo de vestir capa qualquer). Desta maneira veio a si a morte, pela deglutidora maravilha desértica: entregue à bocarra monstruosa, pereceu. Dente a dente. E tantos outros cegos o gigante há de mastigar.
*(de 2002, revisto)
O que eu adoro nesses seus posts é como eles me obrigam a fazer descobertas surpreendentes no dicionário.
ResponderExcluirQuanto à necessidade de gramática, sim, eu também acredito que o conhecimento sobre o mecanismo sintático da nossa língua portuguesa permite que aprofundemos nosso raciocínio.
Abolir o ensino da gramática!?!?! Claro que é malandragem - e das piores, as assim chamadas "brasileiras". Aldravice total!