quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Por que eu amo O Pianista


“Eu não sou judeu.
Eu não sou polonês.

Eu sou Pianista.”

Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, a família Szpilman é deportada da Polônia e o único membro a escapar, acidentalmente, do trem que a levaria a um campo de concentração é Wladyslaw, interpretado magistralmente por Adrien Brody, nossa protagonista: O Pianista.
Enclausurado no Gueto de Varsóvia, doente e faminto, o artista passa a levar uma vida errante entre miséria e caos.
O roteiro de R. Harwood, adaptado a partir da obra biográfica homônima do pianista Wladyslaw Szpilman, parte do momento em que, tendo a Alemanha nazista invadido a Polônia, passa a ser decretada uma série de leis de caráter anti-semita.
Ainda que os decretos sejam, de fato, levados à prática, a família Szpilman, abastada e culta, encabeçada pelo pai, acredita que a guerra não durará muito tempo e que a Alemanha há de ser, em breve, derrotada. Desta maneira, submete-se passivamente à humilhação.
A humilhação, aliás, é um dos elementos que parecem nortear todo O Pianista de Roman Polanski. Ela tem início com decretos ridiculamente cretinos, como a proibição aos judeus de andarem nas calçadas de Varsóvia, chegando ao ponto da cena na qual, à frente duma família, à mesa do jantar, oficiais da SS defenestram um senhor numa cadeira de rodas para evitar o trabalho de carregarem-no escada abaixo rumo à morte.
O auge da humilhação, entretanto, não se apresenta no filme por meio destas nuances, que acabam compondo o terrível panorama no qual judeus e poloneses, especificamente, estavam inseridos na Polônia tomada pela Alemanha Nazista, mas na universalização dela, ao cercear o direito humano.
Poucas cenas cinematográficas têm o efeito daquela na qual Szpilman toca, sem tocar, o piano do apartamento onde se esconde.
Ponto fundamental no decorrer do filme é a imagem de Wladyslaw. A personagem, apresentada, em princípio, como sujeito requintado, músico erudito, passa a sofrer grande metamorfose, tornando-se figura esquálida, inerte, animalizada. A humilhação aqui é o que leva à brutalização do homem. Como é possível andar sorrateiramente numa rua tomada por cadáveres ou procurar comida enfiando a cabeça nas latrinas, entre excreção humana? Por outro lado, com que mais se impressionar, afinal, depois de ter sua família conduzida à morte?
Mais interessante ainda é estabelecer um cotejo entre a transformação de Wladyslaw e a transformação de Varsóvia ao longo da obra. Ao passo em que o pianista emagrece, empalidece e é transformado em objeto passivo, os prédios de Varsóvia são colocados abaixo, a cidade fica em ruínas e perde a cor.
Szpilman perde sua família, passa a subsistir como foragido, tem fome e é impedido de exercer sua arte. Ainda assim, ele não demonstra rancor nas três oportunidades em que encontra oficiais nazistas; a primeira, ao ser retirado do trem, e as outras duas são encontros com o oficial que pede para que ele toque piano e implora, já preso, ao último encontro, para Szpilman lembrar-se de ajudá-lo.
O pianista não só não demonstra rancor, mas também se apresenta ao longo do filme como personagem completamente passiva. Ele é retirado do trem, a ele é sugerido que permaneça escondido no apartamento de amigos, é alimentado no apartamento e espera, ao final da guerra, ser encontrado pelos soviéticos.
Mais do que um homem traumatizado pela humilhação e pela perda da família, Wladyslaw Szpilman se presta aqui a símbolo. Polansky poderia ter trazido às telas a história dum ferreiro, bancário, professor ou relojoeiro. Judeu, polonês, cristão ou palestino. Trouxe O Pianista.
O piano, a música e a arte foram as nuances que levaram aquela questão específica, circunscrita pela guerra, à expansão, tomando caráter universal. Ali, a arte é o que faz valer o caráter humano de Wladyslaw. Ele não representa mais um judeu ou um polonês. Segundo a própria personagem, ele é pianista.
É a Arte quem resiste à cidade demolida e ao corpo, que perece gradualmente.
O Pianista, desta maneira, não me parece um filme específico sobre a questão do judeu polonês no Holocausto, mas relativo àquele inominável demasiadamente humano quê.
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Título: Le Pianiste
Gênero: Drama
Duração: 148 minutos
Lançamento: 2002
Direção: Roman Polanski
Roteiro: Ronald Harwood
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P.S.: Segunda-feira, dia 16, minha querida amiga Deborah enviou esta notícia curiosa relacionada ao tema.

5 comentários:

  1. blá,blá,blá....blá...

    Sempre que assisto a esse filme, acho muito bom filme.

    Repare nos efeitos sonoros.

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  2. Gostei muito deste filme, e também me chamou a atenção a passividade da personagem, além de sua falta de rancor pelos nazistas.

    Beijo.

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  3. um exelente filme, o pianista. sem dúvida um dos melhores a que já assisti sobre a 2ª Guerra Mundial.
    é um filme que recomendo

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