sábado, 3 de janeiro de 2009

Remissiva

A gente pega um dinheiro e – não, não é roubo – pega da gaveta e ele nem dá por falta, você vai ver só, porque ele tem mais, você acha que isso aí – você acha? – acha que é a providência toda dele? não, não é, eu garanto – pela minha mãe do céu garanto – te garanto que essa pouca miséria nem faz falta; então a gente pega o dinheiro dele – não se apropria, a gente empresta, eu disse, é um empréstimo – a gente pega – que nem há de fazer tanta falta assim – e daí a gente vai embora – não foge, vai embora – a gente vai pra bem longe – sem fugir – vai pra longe e eu pensei no Amazonas que lá eu tenho uma tia velha – nossa dindinha, você conhece a dindinha? – e dindinha nem abre a boca se a família cria caso por conta disso e – nem ninguém chia, você sabe – ninguém abre a boca; aí a gente vai – você até vai gostar de lá que tem até muito pássaro bonito – e a gente fica lá até o mano se acostumar com essa nossa idéia – logo se acostuma o velho – e depois de aceitar isso – ele logo aceita porque não dá nem pela falta – depois de aceitar a gente volta ou a gente pode ir pro Rio de Janeiro – o que você acha, hein? – a gente vai lá pro Rio de Janeiro e vê o Cristo – eu sempre quis ver o Cristo – e vamos conhecer o Cristo e pular carnaval lá no Rio de Janeiro e – aí é se você quiser – e se você tiver vontade, num dia a gente volta do Rio de Janeiro – depois da gente pular o carnaval e ver Cristo – a gente volta um dia pra você ver suas crianças, mas isso se você faz questão, não é? que depois não quero ainda ouvir que – e isso é uma bruta mentira – não quero depois nem ficar escutando por aí que eu não faço o de tudo pra agradar minha neguinha, e eu – justo eu – e agora – agora a gente já falou demais – até agora não ganhei nem um cheiro – eu que faço só o do teu agrado – e nem ganho um cheiro. Vem cá.

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