sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Épico em versos anti-heróicos

Foi que depois de cinco-horas-quase-seis in medias rés levantou-se da cama. A gata havia de estar com fome e o apartamento precisava de faxina. Banheiro. Inferno de urina e imundície até última fresta de espírito. Espelho partido: revés tenso de sete olhos. Bateu a porta. Grunhiu, emperrou. Calcanhares trêmulos e cozinha. Formiga, formiga, e ainda pensou que àquelas horas podia estar longe dali. Ralhou consigo por não sei quê. Coma ervilhas. Abriu lata, cortou dedo, chupou sangue, bebeu da água salgada. Chutou a gata estrupício. Formiga. Formiga. Ligou o rádio e deu cabo na vassoura. Desgraça sem fim. Encera-se o chão e dá-lhe amoníaco. Morram, diabas. Podia, devia e sabia, estar longe dali. Tomou banho, maldisse a vida e voltou pra cama. Lá pelas tantas, seu homem chega.

4 comentários:

  1. as formigas nos causam inveja atávica.

    elas sabem exatamente o que fazer e pra onde ir, o tempo todo.

    por isso não há filósofos entre as formigas.

    R.

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  2. Somos, portanto, dois formicidas, R.

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