sábado, 17 de janeiro de 2009

Couvert indigesto

Devorei zilhões de livros
Degluti dez mil palavras
Regurgito em litros métrica
Ainda arroto poesia
Mas a rima
Alimentar
Peristal
titica
D
U
O
D
E
N
O
A
B
A
I
X
O

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Devaneio na boca


"Na boca, na boca!" (Manuel Bandeira)

Quero morrer de tiro levado
Tiro bem dado de lança ligeira
Arma certeira, veneno que injeta
Ponta de seta a furar corrente

Quero, depois, que a corrente me leve
Sou destemida, meu bote é de aço
Não enferrujo, não quebro nem rasgo
Naufrago barato no curso do rio

Quero uma vida (depois dessa outra)
Co'a mesma voragem o igual turbilhão
Me deixo fugir, não preciso ser solta
Da cela em que a seta me encarcerou

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Elementar, meu caro Watson

O horizonte, detrás das antenas e betão armado, é segredo capital. Tenho de descer hoje ao mar e desvendar esse mistério.
Até sexta-feira.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Kipá

Anteposto ao homem, o solidéu hebraico
Na hierarquia cósmica da Antigüidade
Ao Deus de Abraão assegurou onipotência

Pela mãe bordado
À hora de dormir
Tarde em Ashkelon

O quepe verde oliva das forças armadas
Sob ar condicionado em gabinete bélico
Laureia diariamente seus deuses modernos

High Tecnology
Always at the time
Made in U.S.A.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Combinação

Ainda que estivesse de volta em semanas, por tristeza tomado, cheio de saudade, implorando perdão - rogar amor é prática feminina e, no ofício de fêmea, podia bem se virar sozinha, não precisava de mais ninguém - decidiu treinar pontaria e, num golpe certeiro, acertar o pé direito em seu entrenádegas.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Máxima

Toda mudez será fustigada.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Vou ali e, já, volto já.

Saio em pequenas férias na roça e é pouco provável que encontre acesso a computador por lá, de sorte que esta Pobre Rima deve retomar suas atividades ali pelo sábado.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Calmaria

Vinho do Porto à aguarrás
sem louça manchada, sem domingo
sem macarronada.

Roleta polaca
e o cartucho vale um dez
em miligramas mal dosadas.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

(mais uma) Da série Ah, a academia!

Eu não tinha pretensão alguma de tecer novamente qualquer espécie de comentário a respeito do vestibular, mas a prova de História, aplicada hoje, trouxe uma questão que me deixou encafifada.
Os caras pediam pra que o vestibulando, um sujeito de, em média, dezessete anos nem bem graduado no Ensino Médio, discorresse acerca das “características do teatro na Grécia antiga”.
Lá na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, nas aulas de Teatro Grego do Professor Torrano e da Adriane, soube da existência de tragediógrafos, comediógrafos e lances desse gênero. Até o final do colegial, eu poderia jurar que Jocasta era, originalmente, personagem de novela global.
Lembrei, lendo a pergunta, da aula inaugural do curso de Letras no ano de 2000, na qual o Professor Alfredo Bosi verteu lágrimas saudosas daquele tempo da Maria Antônia, quando os estudantes adentravam a Universidade de São Paulo compreendendo Latim.
Sacanagem, Fuvest!

domingo, 4 de janeiro de 2009

Da série Ah, a academia!

Duas pendências me deixaram de molho na capital durante este início das férias escolares. A primeira, obviamente, foi a falta de grana; outra, a segunda fase da Fuvest. Presto agora, graduada em Letras, História.
Hoje foi dia da prova de Língua Portuguesa, na qual passei cerca de vinte e oito minutos procurando lembrar qual é o nome do autor de Canção do Exílio. Me vieram à memória as versões do Seno e Cosseno que o Empadinha ensinou no colegial, a do Oswald de Andrade, Antonio Carlos de Brito, Murilo Mendes, Drummond.
O que, em primeiro lugar, fiz ao sair da Escola Politécnica, onde realizei o teste, foi acender um cigarro. Em seguida, liguei pra minha mãe e perguntei se “quem disse que minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá e as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá foi o Gonçalves Dias?”. Meio reticente, respondeu que sim.
Chupa, Fuvest!

sábado, 3 de janeiro de 2009

Remissiva

A gente pega um dinheiro e – não, não é roubo – pega da gaveta e ele nem dá por falta, você vai ver só, porque ele tem mais, você acha que isso aí – você acha? – acha que é a providência toda dele? não, não é, eu garanto – pela minha mãe do céu garanto – te garanto que essa pouca miséria nem faz falta; então a gente pega o dinheiro dele – não se apropria, a gente empresta, eu disse, é um empréstimo – a gente pega – que nem há de fazer tanta falta assim – e daí a gente vai embora – não foge, vai embora – a gente vai pra bem longe – sem fugir – vai pra longe e eu pensei no Amazonas que lá eu tenho uma tia velha – nossa dindinha, você conhece a dindinha? – e dindinha nem abre a boca se a família cria caso por conta disso e – nem ninguém chia, você sabe – ninguém abre a boca; aí a gente vai – você até vai gostar de lá que tem até muito pássaro bonito – e a gente fica lá até o mano se acostumar com essa nossa idéia – logo se acostuma o velho – e depois de aceitar isso – ele logo aceita porque não dá nem pela falta – depois de aceitar a gente volta ou a gente pode ir pro Rio de Janeiro – o que você acha, hein? – a gente vai lá pro Rio de Janeiro e vê o Cristo – eu sempre quis ver o Cristo – e vamos conhecer o Cristo e pular carnaval lá no Rio de Janeiro e – aí é se você quiser – e se você tiver vontade, num dia a gente volta do Rio de Janeiro – depois da gente pular o carnaval e ver Cristo – a gente volta um dia pra você ver suas crianças, mas isso se você faz questão, não é? que depois não quero ainda ouvir que – e isso é uma bruta mentira – não quero depois nem ficar escutando por aí que eu não faço o de tudo pra agradar minha neguinha, e eu – justo eu – e agora – agora a gente já falou demais – até agora não ganhei nem um cheiro – eu que faço só o do teu agrado – e nem ganho um cheiro. Vem cá.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Épico em versos anti-heróicos

Foi que depois de cinco-horas-quase-seis in medias rés levantou-se da cama. A gata havia de estar com fome e o apartamento precisava de faxina. Banheiro. Inferno de urina e imundície até última fresta de espírito. Espelho partido: revés tenso de sete olhos. Bateu a porta. Grunhiu, emperrou. Calcanhares trêmulos e cozinha. Formiga, formiga, e ainda pensou que àquelas horas podia estar longe dali. Ralhou consigo por não sei quê. Coma ervilhas. Abriu lata, cortou dedo, chupou sangue, bebeu da água salgada. Chutou a gata estrupício. Formiga. Formiga. Ligou o rádio e deu cabo na vassoura. Desgraça sem fim. Encera-se o chão e dá-lhe amoníaco. Morram, diabas. Podia, devia e sabia, estar longe dali. Tomou banho, maldisse a vida e voltou pra cama. Lá pelas tantas, seu homem chega.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Panacéia

Contra canto encantado
Esconder nalgum canto
Qualquer

Se amarrar bem no mastro
Do bom marinheiro
Ninguém

Por detrás nós atados
Nós cegos
Pronominais